Boletín de la Sociedad Zoológica del Uruguay, 2025
Vol. 34(2): e34.2.7
ISSN 2393-6940
https://journal.szu.org.uy
DOI: https://doi.org/10.26462/34.2.7
RESUMO
Registro comportamental, alimentar e reprodutivo de
Oxycheila tristis (Coleoptera: Carabidae: Cicindelinae)
em mata de galeria no município de Luminárias, Minas
Gerais, Brasil. Foi encontrado um casal do besouro em
cópula, no mesmo momento, a fêmea se alimentava de
um macho de Atta sp. (Hymenoptera: Formicidae).
Palavras-chave: Cicindelinae; formiga cortadeira;
predação; reprodução.
ABSTRACT
Behavioral record of mating and feeding of Oxycheila
tristis (Coleoptera: Carabidae). Behavioral, feeding,
and reproductive record of Oxycheila tristis (Coleoptera:
Carabidae: Cicindelinae) in a gallery forest in the
municipality of Luminárias, Minas Gerais, Brazil. A
copulating pair of beetles was observed, with the female
simultaneously feeding on a male Atta sp. (Hymenoptera:
Formicidae).
Keywords: Cicindelinae; leaf-cutting ant; predation;
reproduction.
Carabidae é a quarta maior família da Ordem
Coleoptera, com aproximadamente 40.000 espécies
(Bouchard et al., 2017), que inclui a subfamília
Cicindelinae (sensu Ball, 1979) (ou família
Cicindelidae, sensu Nichols, 1985), 120 gêneros e
cerca de 2.822 spp. em todo o mundo (Cassola &
Pearson, 2001, Serrano & Capela, 2013), com 21
gêneros e 264 espécies de ocorrência no Brasil
(Anichtchenko, 2024).
Os besouros desta subfamília, devido ao seu
comportamento agressivo de caça, são popularmente
conhecidos como “besouros tigre” (Marinoni, 2001;
Marinoni, Ganho, Monné & Mermudes, 2001). São
predadores ágeis e adaptáveis, seja na fase adulta ou
larval, e por isso predam uma grande variedade de
presas (Mawdsley & Sithole, 2009), sendo
considerados um dos insetos predadores mais ativos e
eficientes (Larochelle, 1974).
Entre os insetos predados por Carabidae,
espécies prejudiciais a culturas agrícolas (Fowler,
1912; Sastry & Appanna, 1958; Oliveira, Zanuncio,
Zanuncio & Santos, 2001), portanto podem atuar no
controle biológico (Lövei & Sunderland, 1996; Kromp,
1999). Além disso, a maioria das espécies de
cicindelídeos tem especialização de habitat, por isso
exploram macrohabitats bem específicos (Jaskula,
2015), portanto são consideradas espécies
bioindicadores (Carroll & Pearson, 1998; Jaskuła,
Płóciennik & Schwerk, 2019). Esses serviços
ambientais prestados por esses coleópteros,
justificam a realização de estudos para se conhecer
melhor a biologia e ecologia deste táxon.
Sendo assim, o objetivo deste trabalho é registrar
comportamento alimentar e reprodutivo de Oxycheila
tristis (Coleoptera: Carabidae: Cicindelinae).
O registro ocorreu em 22 de novembro de 2023,
às10h, em uma rocha, um metro da água, em mata de
galeria (Fitofisionomia do Cerrado) na Cachoeira do
Mamomo (21º31'18”S 44º50'39”W), em uma área de
transição entre Mata Atlântica e Cerrado, município de
Luminárias, Minas Gerais, Brasil. Foram realizadas
Bol. Soc. Zool. Uruguay (2ª época). 2025. ISSN 2393-6940Vol. 34(2): e34.2.7
NOTA
REGISTRO COMPORTAMENTAL DE ACASALAMENTO E ALIMENTAÇÃO DE Oxycheila tristis
(COLEOPTERA: CARABIDAE)
1 2 3*
Gabriel de Castro Jacques , Leonardo Dutra Barborsa , Marcos Magalhães de Souza
1Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais - Campus Bambuí, Bambuí, MG, Brasil.
2Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, Brasil.
3Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais - Campus Bambuí, Bambuí, MG, Brasil.
*Autor para correspondência: marcos.souza@ifsuldeminas.edu.br
Data de receção: 18 de dezembro de 2024
Data de aceitação: 4 de abril de 2025
.
2
DE CASTRO JACQUES et al.
observações comportamentais, pelo método ad libitum
(Del-Claro, 2004), com cerca de dez minutos
contínuos de observação, com registro por fotos e
filmagem. Posteriormente, procedeu a coleta dos
espécimes com auxílio de pinça, acondicionados em
álcool 70% e enviados para identificação. Os besouros
e a formiga foram identificados pela Dra. Letícia Maria
Vieira, Universidade Federal de Lavras, e o besouro,
confirmado pelo Dr. Fernando Z. Vaz-de-Mello da
Universidade Federal de Mato Grosso.
Foi encontrado um casal de Oxycheila tristis
(Fabricius, 1775) (Coleoptera: Carabidae:
Cicindelinae) em cópula, onde o macho estava
parcialmente sobre o dorso da fêmea, a segurando
pela região do tórax através de suas mandíbulas. O
casal não se deslocou no ambiente durante o período
de observação, somente a fêmea movimentava as
pernas e mandíbulas, pois estava se alimentando de
um macho de Atta sp. (Hymenoptera: Formicidae) (Fig.
1). Não foi possível identificar a formiga até o nível de
espécie, pois partes do corpo haviam sido
consumidas.
Oxycheila tristis é uma espécie de ampla
ocorrência geográfica no Brasil (Wiesner, 1999), e
comum ao longo de rios associados à floresta ciliar
com cachoeiras próximas com pedras e cascalho (Adis
& Messner, 1997). Os adultos vivem no solo,
comumente, nas margens dos rios, mas também são
ocasionalmente encontrados longe da água, em locais
secos, como pastagens, florestas e áreas
montanhosas (Wiesner, 1999). as larvas ocorrem
em tocas nas margens úmidas dos rios (Zikan, 1929;
Putchkov & Arndt, 1996; Wiesner, 1999). A maioria das
espécies de besouros tigre são diurnas (Person,
1998), porém no gênero Oxycheila, a maioria das
espécies são noturnas (Cassola & Pearson, 2001),
mas o registro O. tristis em atividade alimentar e
reprodutiva ocorreu durante o dia, portanto essa
espécie possui hábitos diurnos.
Em muitas espécies de insetos e aracnídeos
(Costa-Schmidt, Carico & Araújo, 2008), os machos
oferecem às fêmeas presentes alimentares durante o
processo de acasalamento (Vahed, 1998). Esses
presentes podem ser presas capturadas pelos
machos, como insetos ou outros pequenos animais, ou
partes ou todo o corpo do próprio macho, ou ainda
podem consistir em secreções alimentares
regurgitadas (Vahed, 1998). Esses presentes servem
para nutrir a fêmea durante o acasalamento ou até
mesmo para aumentar as chances de aceitação do
macho (Vahed, 1998).
Besouros tigre utilizam corridas intermitentes,
semelhantes às usadas na forrageamento, para se
aproximar das fêmeas, como ocorre por exemplo em
Chaetodera regalis (Dejean) (Mawdsley & Sithole,
2009) e Oxycheila polita Bates, 1872 (Cummins,
1992). Quando suficientemente próximo, o macho
salta nas costas da fêmea e agarra seu tórax, nos
sulcos de acoplamento, com suas mandíbulas
(Pearson, 1998), semelhante ao ocorrido em nosso
registro, no qual mesmo com a fêmea se
movimentando para se alimentar, o macho se
mantinha preso ao corpo dela. Presumivelmente, esta
capacidade de um macho permanecer montado
poderia funcionar como uma sinalização para a fêmea
de sua superioridade genética, seu fitness (
), ou ainda ter a função de “guarda da parceira”,
ou seja, este comportamento impede que outros
machos acasalem com a fêmea, garantido o esforço
reprodutivo (Mawdsley & Sithole, 2009). Em O. polita,
a fêmea forrageava com o macho nas costas, e em
laboratório observou que os machos ficavam
montados após a cópula por até dois dias, e em alguns
casos até a oviposição da fêmea (Cummins, 1992).
Não há informação sobre a etologia reprodutiva de O.
tristis, sendo assim, neste caso, não se sabe se o
macho ofereceu a presa nupcial para a fêmea, ou se a
fêmea encontrou o alimento antes do acasalamento,
ou se ainda, a fêmea forrageou com o macho em suas
costas, e encontrou, posteriormente, o alimento.
Não muitas informações sobre a alimentação de
O. tristis, portanto não se pode afirmar se este besouro
predou ativamente a formiga, ou apenas se alimentou
dela já morta. Besouros tigre são predadores ágeis e
adaptáveis, caçando uma variedade de presas
(Larochelle, 1974; Mawdsley & Sithole, 2009), porém,
algumas espécies podem se alimentar de presas
mortas (Pearson & Mury, 1979). Oxycheila polita se
alimenta de larvas imaturas de caddisfly, larvas de
stonefly, larvas de mayfly e quironomídeos (Cummins,
1992). Além disso, outras espécies de besouros tigre
foram relatados predando diferentes pragas agrícolas,
como lagartas (Oliveira et al., 2001) e grilos-toupeira
(Person, 1998), porém este é o primeiro registro de
alimentação de formiga cortadeira (Atta sp.).
As formigas cortadeiras são as pragas mais
agressivas para plantação de eucalipto, pois causam
graves perdas na produção de madeira devido à
desfolha (Cherret, 1986; Fowler et al., 1989). Em
compensação, O. tristis é comum em plantações de
eucalipto (Oliveira, Zanuncio, Zanuncio & Santos,
2001), e a predação de adultos de Atta pode diminuir a
reprodução, e consequentemente, a dispersão da
formiga, contribuindo para diminuir os danos causados
pela praga.
Nosso registro adicionou mais informações sobre
ecologia, etologia reprodutiva e da dieta de O. tristis, e
sugerimos mais estudos para avaliar seu potencial uso
na predação de Atta sp. em área de cultivo de
eucalipto.
Agradecemos aos professores Dra. Letícia Maria
Vieira, Universidade Federal de Lavras, e Dr. Fernando
Z. Vaz-de-Mello, Universidade Federal de Mato
Grosso, pela a identificação do material; A Prefeitura
Municipal de Luminárias, Secretaria de Turismo e
Conselho municipal de Turismo (COMTUR) pelo
Orians,
1969
Bol. Soc. Zool. Uruguay (2ª época). 2025. ISSN 2393-6940Vol. 34(2): e34.2.7
3Acasalamento e alimentação de Oxycheila tristis
financiamento; Ao IFMG, Campus Bambuí e ao
IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes pela
logística.
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Fig. 1. Casal de Oxycheila tristis (Coleoptera: Carabidae) em cópula e o uso de Atta sp. (Hymenoptera: Formicidae) como
recurso alimentar pela fêmea em área de Floresta de Galeria, Luminárias, Minas Gerais, Brasil.
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