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DE CASTRO JACQUES et al.
observações comportamentais, pelo método ad libitum
(Del-Claro, 2004), com cerca de dez minutos
contínuos de observação, com registro por fotos e
filmagem. Posteriormente, procedeu a coleta dos
espécimes com auxílio de pinça, acondicionados em
álcool 70% e enviados para identificação. Os besouros
e a formiga foram identificados pela Dra. Letícia Maria
Vieira, Universidade Federal de Lavras, e o besouro,
confirmado pelo Dr. Fernando Z. Vaz-de-Mello da
Universidade Federal de Mato Grosso.
Foi encontrado um casal de Oxycheila tristis
(Fabricius, 1775) (Coleoptera: Carabidae:
Cicindelinae) em cópula, onde o macho estava
parcialmente sobre o dorso da fêmea, a segurando
pela região do tórax através de suas mandíbulas. O
casal não se deslocou no ambiente durante o período
de observação, somente a fêmea movimentava as
pernas e mandíbulas, pois estava se alimentando de
um macho de Atta sp. (Hymenoptera: Formicidae) (Fig.
1). Não foi possível identificar a formiga até o nível de
espécie, pois partes do corpo já haviam sido
consumidas.
Oxycheila tristis é uma espécie de ampla
ocorrência geográfica no Brasil (Wiesner, 1999), e
comum ao longo de rios associados à floresta ciliar
com cachoeiras próximas com pedras e cascalho (Adis
& Messner, 1997). Os adultos vivem no solo,
comumente, nas margens dos rios, mas também são
ocasionalmente encontrados longe da água, em locais
secos, como pastagens, florestas e áreas
montanhosas (Wiesner, 1999). Já as larvas ocorrem
em tocas nas margens úmidas dos rios (Zikan, 1929;
Putchkov & Arndt, 1996; Wiesner, 1999). A maioria das
espécies de besouros tigre são diurnas (Person,
1998), porém no gênero Oxycheila, a maioria das
espécies são noturnas (Cassola & Pearson, 2001),
mas o registro O. tristis em atividade alimentar e
reprodutiva ocorreu durante o dia, portanto essa
espécie possui hábitos diurnos.
Em muitas espécies de insetos e aracnídeos
(Costa-Schmidt, Carico & Araújo, 2008), os machos
oferecem às fêmeas presentes alimentares durante o
processo de acasalamento (Vahed, 1998). Esses
presentes podem ser presas capturadas pelos
machos, como insetos ou outros pequenos animais, ou
partes ou todo o corpo do próprio macho, ou ainda
podem consistir em secreções alimentares
regurgitadas (Vahed, 1998). Esses presentes servem
para nutrir a fêmea durante o acasalamento ou até
mesmo para aumentar as chances de aceitação do
macho (Vahed, 1998).
Besouros tigre utilizam corridas intermitentes,
semelhantes às usadas na forrageamento, para se
aproximar das fêmeas, como ocorre por exemplo em
Chaetodera regalis (Dejean) (Mawdsley & Sithole,
2009) e Oxycheila polita Bates, 1872 (Cummins,
1992). Quando suficientemente próximo, o macho
salta nas costas da fêmea e agarra seu tórax, nos
sulcos de acoplamento, com suas mandíbulas
(Pearson, 1998), semelhante ao ocorrido em nosso
registro, no qual mesmo com a fêmea se
movimentando para se alimentar, o macho se
mantinha preso ao corpo dela. Presumivelmente, esta
capacidade de um macho permanecer montado
poderia funcionar como uma sinalização para a fêmea
de sua superioridade genética, seu fitness (
), ou ainda ter a função de “guarda da parceira”,
ou seja, este comportamento impede que outros
machos acasalem com a fêmea, garantido o esforço
reprodutivo (Mawdsley & Sithole, 2009). Em O. polita,
a fêmea forrageava com o macho nas costas, e em
laboratório observou que os machos ficavam
montados após a cópula por até dois dias, e em alguns
casos até a oviposição da fêmea (Cummins, 1992).
Não há informação sobre a etologia reprodutiva de O.
tristis, sendo assim, neste caso, não se sabe se o
macho ofereceu a presa nupcial para a fêmea, ou se a
fêmea encontrou o alimento antes do acasalamento,
ou se ainda, a fêmea forrageou com o macho em suas
costas, e encontrou, posteriormente, o alimento.
Não há muitas informações sobre a alimentação de
O. tristis, portanto não se pode afirmar se este besouro
predou ativamente a formiga, ou apenas se alimentou
dela já morta. Besouros tigre são predadores ágeis e
adaptáveis, caçando uma variedade de presas
(Larochelle, 1974; Mawdsley & Sithole, 2009), porém,
algumas espécies podem se alimentar de presas
mortas (Pearson & Mury, 1979). Oxycheila polita se
alimenta de larvas imaturas de caddisfly, larvas de
stonefly, larvas de mayfly e quironomídeos (Cummins,
1992). Além disso, outras espécies de besouros tigre já
foram relatados predando diferentes pragas agrícolas,
como lagartas (Oliveira et al., 2001) e grilos-toupeira
(Person, 1998), porém este é o primeiro registro de
alimentação de formiga cortadeira (Atta sp.).
As formigas cortadeiras são as pragas mais
agressivas para plantação de eucalipto, pois causam
graves perdas na produção de madeira devido à
desfolha (Cherret, 1986; Fowler et al., 1989). Em
compensação, O. tristis é comum em plantações de
eucalipto (Oliveira, Zanuncio, Zanuncio & Santos,
2001), e a predação de adultos de Atta pode diminuir a
reprodução, e consequentemente, a dispersão da
formiga, contribuindo para diminuir os danos causados
pela praga.
Nosso registro adicionou mais informações sobre
ecologia, etologia reprodutiva e da dieta de O. tristis, e
sugerimos mais estudos para avaliar seu potencial uso
na predação de Atta sp. em área de cultivo de
eucalipto.
Agradecemos aos professores Dra. Letícia Maria
Vieira, Universidade Federal de Lavras, e Dr. Fernando
Z. Vaz-de-Mello, Universidade Federal de Mato
Grosso, pela a identificação do material; A Prefeitura
Municipal de Luminárias, Secretaria de Turismo e
Conselho municipal de Turismo (COMTUR) pelo
Orians,
1969
Bol. Soc. Zool. Uruguay (2ª época). 2025. ISSN 2393-6940Vol. 34(2): e34.2.7